Eram os deuses astronautas?


De vez em quando alguém pergunta minha opinião pessoal sobre as obras do escritor suíço Erich von Däniken, que entre outros livros escreveu o petardo “Eram os deuses astronautas?” título deste texto.

Para quem nunca leu qualquer livro do autor ou sequer ouviu falar dele, um resumo rápido: Däniken ganhou fama escrevendo estórias onde ele afirma que supostos extraterrestres — ou viajantes do tempo, vai saber ao certo? — teriam vivido entre os povos da Antiguidade e teriam ajudado inclusive no desenvolvimento das primeiras sociedades “organizadas”, doando tecnologias e técnicas para construção dos grandes templos.

As provas desta convivência estariam escondidas na arte produzida por estes povos. Inclusive a presença de seres exteriores estariam documentadas até na arte rupestre! “E o que tem de verdade nisso tudo?” é a pergunta que eu já ouvi algumas vezes.

“The Ghost Panel”, arte rupestre que fica no estado de Utah, nos EUA. [fonte]


Quando falamos em arte rupestre nós estamos tratando de um tema que tem como personagem central não os homens que pintavam cavernas ou esculpiam pequenos totens de mulheres voluptosas, mas sim do medo que estes homens tinham dos fenômenos naturais que os cercavam.

E quando eu cito “fenômenos naturais” eu quero colocar na mesma categoria raios, chuvas, vulcões em erupção, caçadas e colheitas.

Estas caçadas e colheitas tem a ver com a fome, que também pode ser tratada como um fenômeno natural — ou pelo menos pode ser colocada entre os “medos” do homem pré-histórico —, já que o homem primitivo, nômade, era antes de tudo um caçador e coletor. Muitas de suas pinturas tinham dois motivos: inspirar a caçada do dia seguinte ou agradecer a boa caçada ou colheita do dia que passou, assim como as inúmeras Vênus esculpidas na Pré-História, que representavam e agradeciam a fertilidade feminina.

Mas a foto acima, conhecida como “The Ghost Panel”, não representa exatamente uma caçada. Aí é que entra um fator fundamental da humanidade e que nós esquecemos completamente quando damos ouvidos demais à estórias absurdas formuladas apenas com o intuito de entreter o leitor e arrecadar dinheiro para o autor:



A capacidade de evolução do ser humano

Dizer que o homem não tinha capacidade, na Antiguidade, de erguer pirâmides como as de Gizé ou a de Chichén Itzá, ou então construir uma cidade como Machu Picchu é duvidar do poder de evolução da humanidade.

Claro que aqueles primeiros caçadores-coletores que pintavam paredes e corriam pelados atirando lanças em javalis não largaram de uma hora para outra o nomadismo, formaram sociedades complexas e começaram a construir grandes templos como em um passe de mágica.

O conhecimento matemático para erguer tais obras foi evoluindo de forma gradual, até que foi possível não só imaginar, mas também colocar de pé os edifícios.

O que faltava na época era justamente o que nós, hoje em dia, temos em abundância e de forma mecânica: mão-de-obra para executar o trabalho. Mas nada que milhares de trabalhadores, submetidos a uma organização geral de trabalho conhecida como Modo de Produção Asiático pudessem resolver o problema.

Certamente você já ouviu falar deste esquema de trabalho mas vamos tentar explicar de forma simples: trabalhadores faziam parte de um esquema de “servidão coletiva”, no qual tinham que prestar serviços ao soberano — faraó, inca, rei… chame como quiser — por um período de tempo pré-determinado, que variava de algumas semanas a meses. Isso sem contar os escravos que não eram maioria da mão-de-obra, mas também trabalhavam nas obras públicas.

Era um monte de gente puxando uma espécie de trenó enquanto um carinha ia na frente jogando água na areira, para facilitar o deslize.

E voltando um pouco na nossa linha temporal, quem prova o contrário que aqueles caçadores-coletores lá da Pré-História em algum momento de sua evolução não desenharam cenas imaginárias, como fazem hoje alguns pintores, ao invés de cenas que na verdade eram rituais de agradecimento?

Por falar em “provar o contrário”, deixem eu mostrar alguns exemplos que são usados pelos defensores das teorias do desenvolvimento humano atrelado à visitas alienígenas. Porque sejamos sinceros: várias culturas da Antiguidade produziram arte que dá margem à dupla interpretação. Vamos a alguns deles:

As linhas de Nazca

[fonte da imagem]

As linhas que existem em Nazca, um vale deserto ao sul do Peru, até hoje são um mistério. Que finalidade teriam estes desenhos gigantescos que só podem ser vistos de avião ou helicóptero?

Maior pesquisadora do sítio arqueológico, a alemã naturalizada peruana Maria Reiche dedicou boa parte de sua vida a estudar as misteriosas linhas, e chegou a conclusão de que, devido a posição das figuras e das linhas que cortam todo o vale, o conjunto é um imenso calendário astronômico e agrícola.

Até aí tudo bem, tudo perfeito. Culturas antigas estavam acostumadas a datar o período de colheitas baseado no movimento dos corpos celestes. O que intriga é justamente o fato das figuras terem boa visibilidade apenas do alto. É no mínimo esquisito, concordam?

Os “astronautas” de Vale Camonica


As cavernas do Vale Camonica, nos Alpes Italianos, estão cercadas por uma natureza exuberante e tem dezenas de pinturas rupestres retratando animais em movimento correndo de caçadores, o Sol, homens lutando… e entre elas, estas imagens acima.

Aparentemente é apenas mais uma gravura rupestre retratando duas pessoas segurando o que seriam bastões, mas o que dizer dos halos em volta das duas cabeças?

Confesso que é uma gravura bem intrigante, mas vou repetir o que eu sempre respondo quando alguém questiona: isto é arte. E apesar de ter certeza quase absoluta de que na época o desenhista não tinha noção do que é uma licença poética para colocar os halos nas cabeças dos homens, ainda aposto na criatividade do autor para desenhar livremente o que ele bem quis.

E vamos continuar com os exemplos. Agora, o que mais chama a atenção por ser, além de polêmico, contraditório:

OVNIS do tempo de Jesus


Reparem no quadro acima, chamado de “O Batismo de Cristo”. Ele foi concebido pelo pintor flamenco Aert De Gelder, que viveu entre 1645 e 1727.

Portanto, uns dezesseis séculos DEPOIS de Cristo.

Na pintura, João está batizando Jesus, enquanto um curioso objeto discoide lança raios de luz sobre os dois.

O quadro entra com certeza na lista de figuras enigmáticas, mas eu não consigo entender como uma pessoa utiliza uma imagem feita dezesseis séculos depois do fato retratado e diz que é uma prova incontestável da existência de seres ou naves extraterrestres entre nós.

Se naquela época eles já existiam, tinham tecnologia e vinham até nós, porque não o fazem hoje, de forma aberta? Se eram visitantes do futuro, porque hoje não temos estes visitantes entre nós?

Bom, acho melhor parar um pouco por aqui, porque até à luz dos historiadores o assunto “Jesus” ainda é controverso, já que até hoje ninguém conseguiu comprovar se Jesus existiu realmente. Aliás, aproveita que você chegou até aqui e dá uma lida neste texto aqui…

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