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Fenícios: os maiores navegadores da Antiguidade


Conhecidos como “os maiores navegadores da Antiguidade”, os fenícios estabeleceram o primeiro império marítimo da História, ao fundar diversas colônias e cidades-estado por todo o mar Mediterrâneo.

Originários do Levante — a região litorânea atualmente dividida por Síria, Israel e Líbano — os fenícios se estabeleceram na região por volta de 3000 a.C., mantendo uma relativa organização social, primeiro em pequenas aldeias, que foram evoluindo para cidades mais complexas ao longo dos séculos.

Mas, segundo alguns achados arqueológicos, apenas após os séculos XII e XI a.C. é que o povo conquistou uma importância maior na região, principalmente após a invasão dos povos do mar na região da cidade de Biblos.

Quando falamos em “unidade fenícia” no sentido de considerá-los um povo unido em torno de um território, um Estado, mesmo que fragmentado, devemos tomar cuidado.



Apesar da organização social e política das cidades serem bem parecidas e do povo fenício ter uma importância significativa na expansão do comércio no Mediterrâneo — e daí entende-se que as técnicas de navegação eram compartilhadas entre as cidades — além da religião terem diversos pontos em comum, não devemos considerá-los unidos como, por exemplo, o povo egípcio, que ficava sob as ordens de apenas um monarca — neste caso, o faraó.

As cidades-estado fenícias dificilmente se uniam, exceto em ocasiões extremas. E cada uma tinha seu líder e seu corpo administrativo bem definidos.

Nós consideramos o povo fenício unido principalmente pelo dom da navegação, pela disposição para o comércio e pelo alfabeto compartilhado.

Mas no campo político, podemos comparar os fenícios aos gregos antigos, com uma estrutura de cidades-estado bem semelhantes.

Mapa com as rotas fenícias do Mediterrâneo. As principais cidades fenícias foram Ugarit, Sidon, Tiro e Biblos.


Uma outra observação rápida: quando os fenícios fundavam uma colônia — como, por exemplo, a cidade de Cartago —, eles não mantinham aquela relação colônia-metrópole observada, por exemplo, entre Brasil e Portugal a partir do século XVI. A relação era amistosa, mas cada cidade tinha seu próprio governo e cuidava de seu próprio comércio.

Assim, vamos pontuar algumas informações importantes sobre o povo fenício.

Organização político-social e econômica

As cidades fenícias eram governadas por uma talassocracia plutocrática, ou seja: o controle das cidades-estado estava ligado diretamente ao poder marítimo e o governante era alguém rico, de destaque no comércio, eleito também pela parcela mais rica da população.

A maioria dos habitantes estava ligada diretamente ao comércio marítimo ou à construção de barcos, mas os fenícios também produziam muitas peças de artesanato feitas de madeira, pedras e vidros, além dos utensílios e armas de bronze; seus tecidos — principalmente os de cor púrpura — e tapetes também mereciam destaque.

Também plantavam oliveiras e produziam muito azeite, mas os camponeses, responsáveis pela maioria da produção artesanal, estavam situados na pirâmide social fenícia apenas acima dos escravos.

Os fenícios também traziam de outros lugares produtos que serviam de matéria-prima para os artesãos e depois eram revendidos. Prata, cobre, bronze, ébano, estanho e marfim eram trazidos das mais diversas localidades, trabalhados nas cidades fenícias e depois geravam lucros nas mãos dos mercadores, sendo vendidos por todo o Mediterrâneo, até mesmo na Britânia e na parte norte dos atuais territórios da Espanha e da França, já no oceano Atlântico.

Os fenícios também tinham o costume de transportar e vender escravos, capturados por eles próprios ou por terceiros.

O alfabeto fenício

Existe uma corrente historiográfica e linguística que defende a teoria de que o alfabeto grego foi criado a partir do alfabeto fenício, assim como também foram criados o alfabeto hebraico, o aramaico e até mesmo o arábico.

Independente da autoria — e sim, ambos alfabetos citados tem influências diretas do alfabeto fenício —, podemos considerar que este conjunto de sinais utilizado desde o 3º milênio a.C. foi uma grande contribuição deste povo para a História e o desenvolvimento da escrita.

Assim como os sumérios, que criaram a escrita cuneiforme para melhor registrar suas transações comerciais, os fenícios criaram um alfabeto bem mais compreensível e formado por sinais mais simples, facilitando o uso no dia-a-dia, tanto nas transações comerciais como nos registros das cidades.

Das 22 letras utilizadas no alfabeto fenício, nenhuma representava uma vogal, e as mesmas tinham que ser deduzidas de acordo com a palavra utilizada.

A religião fenícia

Enquanto mercadores e em contato constante com outros povos, os fenícios desenvolveram uma religião politeísta, com forte influência dos povos vizinhos, principalmente os do Oriente Médio e do Egito. Aliás, este sincretismo era muito comum nesta época, marcando as características religiosas de vários povos da época. [ao lado, os deuses Baal e Astarte]

Cada cidade tinha o costume de ter seus deuses principais, geralmente um casal que protegia a cidade, além dos deuses secundários. Os trabalhos dos arqueólogos encontraram estátuas, cerâmicas e pinturas que representavam deuses como Baal, Astarte, Melcarte, Eshmun, Osíris, Ísis, Reshef e até mesmo YHWY (Javé), comprovando a influência dos deuses de vários outros povos na religião dos fenícios.

Os ritos, realizados normalmente a céu aberto, contavam com sacrifícios animais e, dependendo da cidade e do deus para o qual realizavam o sacrifício, até mesmo crianças eram mortas.

A “decadência” dos fenícios



Como vários outros povos da Antiguidade, os fenícios também sofreram com invasões externas.

Inicialmente, lá pelo século X a.C., as cidades sofreram invasões dos povos mais próximos, principalmente do povo assírio e depois dos babilônios, mas estas incursões não atrapalharam diretamente no desenvolvimento das cidades nem causaram dano na administração estatal. Na verdade, quando os persas, comandados por Ciro, conquistaram a região já no século VI a.C.; e depois Alexandre; e os impérios que vieram depois, nenhum tentou destruir os avanços conquistados pelos fenícios.

Os fenícios também eram grandes construtores. O Templo de Salomão em Jerusalém, por exemplo, foi elaborado por arquitetos fenícios e construído com mão-de-obra fenícia, já que Salomão, na época, solicitou ajuda de Hiram, rei da cidade de Tiro, e este enviou vários operários a Jerusalém.

É dos fenícios a primazia da circunavegação do continente africano, ordenada e financiada pelo faraó Necho II, por volta do século V a.C.

Como na época já existiam muitas outras cidades ou pontos de comércio fenícios espalhados pelo Mediterrâneo — e muitas destas cidades às vezes conquistavam outras regiões e rivalizavam com outros impérios da época — falar sobre “decadência” dos fenícios pode soar um pouco exagerado.

Existiram as invasões dos grandes impérios da Antiguidade àquele território inicial, ali no Levante, onde floresceu a civilização fenícia, mas outras regiões sofreram invasões em tempos distintos ou ampliaram seu território, dependendo, claro, da época estudada.

O fato é que este povo, direta ou indiretamente, sempre esteve presente no desenvolvimento humano no Mediterrâneo desde o terceiro milênio antes de Cristo, por isso sua grande importância na Antiguidade.

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