A Guerra do Yom Kipur


Após a Guerra dos Seis Dias, que ocorreu em 1967 com esmagadora vitória israelense, a situação do Oriente Médio era a seguinte: Israel espalhou sua população e suas forças militares na Península do Sinai, nas Colinas de Golan e na Cisjordânia, territórios ocupados ao final deste primeiro conflito.

Só que os países de maioria islâmica na região estavam cada vez mais furiosos com a presença dos israelenses controlando a Palestina e os territórios citados.

O tempo passou mas o clima de tensão continuou presente entre as nações. Em 1° de outubro de 1973 o Egito e a Síria decretaram estado de alerta máximo ao longo de suas fronteiras e a Síria movimentou tropas até a fronteira com Golan. Aos israelenses, a medida apenas soou como retaliação a um episódio ocorrido em 13 de setembro do mesmo ano, quando 13 aviões de combate sírios foram abatidos pela força aérea de Israel.

Assim, o chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, David Elazar, determinou o deslocamento de uma brigada até a região.

A ideia de Elazar era também mobilizar os reservistas, mas o Ministro da Defesa, Moshe Dayan, não aprovou a medida, já que os judeus estavam às vésperas de comemorar o Yom Kipur, também conhecido como “O Dia do Perdão”, uma das datas mais importantes do calendário judaico e que prevê 25 horas de jejum e orações. A Primeira-Ministra Golda Meir também era favorável à mobilização dos reservistas, mas foi vencida nesta questão.

A movimentação de tropas do Egito para o Canal de Suez também foi considerada pelos israelenses como um ato de “solidariedade” à movimentação síria, mas que não traria maiores problemas à ocupação no Sinai. Mesmo com equipamento superior, Israel tinha poucos homens na defesa de suas fronteiras.

E foi aí que a coisa começou a ficar meio feia para os israelenses, com vários sinais de que algo ruim ia acontecer…

As peças do tabuleiro e a inatividade de Israel

Nos dias posteriores à movimentação síria, o rei Hussein, da Jordânia, deu uma entrevista à revista Time afirmando o seguinte:

“A menos que Israel saia de todos os territórios ocupados durante a guerra de 1967, em troca de uma garantia para a paz, um novo desastre de grande magnitude será inevitável.”


Esta declaração seria suficiente para alarmar o MOSSAD e movimentar as tropas israelenses. Mas em uma reunião o Gabinete de Governo decidiu por não mobilizar os reservistas, pois o ato poderia incitar acusações de que Israel estaria se preparando para uma grande ofensiva militar.

Aquela linha tênue entre a paz e a guerra estava de novo presente no Oriente Médio, apenas esperando alguém dar o primeiro tiro em direção ao outro lado.

Daí, em 6 de outubro, no dia do Yom Kipur, Israel foi atacado por tropas sírias e egípcias. Inicialmente, as tropas encontraram pouca resistência israelense, pois o número de soldados e veículos era pequeno nas fronteiras. Egito e Síria ainda receberam, ao todo, o reforço de sete nações árabes. Uns participaram enviando equipamentos e homens — o Iraque, por exemplo, enviou para o Egito e a Síria 60 mil soldados, 73 aeronaves e 700 tanques, a maioria equipamento soviético. A Líbia enviou aviões Mirage para o Egito —, enquanto outros países colaboraram financeiramente com o conflito, casos de Arábia Saudita e Kuwait.

Aos israelenses, restou organizar a defesa. Golda Meir foi a público convocar os reservistas, enquanto as forças militares regulares preparavam os armamentos e a Defesa Civil instruía a população quanto à guerra, informando sobre abrigos, o toque de recolher e o blecaute regular.

Descrição: tanques M60A1 do exército israelense (mas de fabricação norte-americana), próximos ao Canal de Suez.

Enquanto isso, os egípcios destruíram pedaços da linha Bar-Lev e invadiram regiões desprotegidas da fronteira no Sinai, provocando a rendição dos soldados israelenses na região e conseguindo uma importante passagem para a península, que logo estava repleta de soldados egípcios.

Os sírios, ao norte, bombardearam Golan e tomaram quase todo o território. Aparentemente, Egito e Síria apenas desejavam retomar as regiões perdidas na Guerra dos Seis Dias, mas Israel não queria entregar estes territórios de mão-beijada

O contra-ataque israelense

Nos dias 7 e 9 de outubro a marinha israelense conquistou duas importantes vitórias ao vencer sírios e egípcios, respectivamente, nas batalhas de Latakia e Baltim. Com isso, Israel conseguiu o domínio do litoral, eliminando o risco de sofrer bombardeios pelo mar.

Nas três semanas seguintes, os israelenses obrigaram sírios e egípcios a retroceder de suas conquistas. Além de ter melhores armas, as forças israelenses são, muitas vezes, cirúrgicas em seus ataques. Imaginem o seguinte: com poucos homens os israelenses permitiram a invasão, pois os ataques inimigos foram maciços. Porém, os soldados que não foram capturados ou mortos resistiram até o dia 8, quando os reservistas começaram a chegar nos dois fronts para reforçar as linhas israelenses e iniciar ataques que visavam bombardear posições além das fronteiras, tentando levar a guerra para dentro da Síria e do Egito.

Descrição: tanque SU-100 egípcio (de fabricação soviética) destruído na beira da estrada.

No dia 11, uma contra-ofensiva foi autorizada pelo Estado-Maior. Na Síria, os israelenses em um dia conseguiram chegar a 40 Km de Damasco, enquanto tropas sírias recuavam de Golan deixando para trás cerca de 900 tanques, muitos danificados por forças israelenses. No Egito, após o dia 15, divisões de paraquedistas atravessaram em botes o Canal de Suez e montaram uma cabeça-de-ponte do lado egípcio, permitindo a passagem de mais soldados e a destruição de muitas baterias anti-aéreas, garantindo a operação da Força Aérea Israelense (IAF) na região.

Com a superioridade aérea, Israel conseguiu expulsar os egípcios do Sinai e empurrá-los território adentro. Israel até tentou conquistar a cidade de Suez, mas suas forças foram repelidas. Mas a fronteira sul estava segura de novo e os exércitos israelenses estavam a apenas 101 Km do Cairo!

No dia 22 o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução 338, que pedia o fim da guerra e o início das negociações para implementação de uma paz duradoura no Oriente Médio.

Como a região é praticamente um barril de petróleo ambulante, havia a pressão externa pelo fim dos conflitos vinda de vários países dependentes do combustível — principalmente os EUA e países europeus.

Após várias negociações, onde Egito e Síria exigiram a saída de Israel dos novos territórios (agora) reocupados, em 11 de novembro o acordo de paz foi assinado entre Egito e Israel. Com a Síria não houve assinatura de nenhum tratado, mas Israel deixou as posições conquistadas na guerra, ocupando apenas as Colinas de Golan.

Consequências da Guerra do Yom Kipur

O Egito percebeu que, pela via militar, ele jamais conseguiria alguma coisa contra um exército melhor equipado e treinado. Negociando e mantendo conversas cordiais, em 1979 Israel e Egito assinaram o Tratado de Camp David, que previa o fim permanente das hostilidades entre os dois Estados.

Já os países árabes membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) iniciaram um boicote aos EUA e aos países que apoiavam a existência do Estado de Israel. Os preços do produto aumentaram 300%, causando uma grande Crise Mundial do Petróleo, que se arrastou por alguns anos. A sorte dos países consumidores é que na época foram descobertas outras jazidas em diversos lugares do planeta, o que aliviou um pouco a demanda crescente pelo combustível.

Aqui no Brasil foi a época em que o governo desenvolveu o Programa Proálcool, ainda em 1975, visando diminuir a dependência do país à gasolina. Foram inclusive oferecidos créditos e vantagens a produtores de cana-de-açúcar e montadoras de carros que passaram a investir em motores movidos a etanol. Infelizmente esta política - que foi meio que retomada durante o governo Lula - hoje não recebe mais tanto incentivo, mas foi a partir dela que nasceram os carros "flex", que aceitam tanto gasolina quanto etanol.

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