A Guerra dos Seis Dias


Desde o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945 e da criação do Estado de Israel em 1948 que o Oriente Médio vive em uma constante tensão bélica por conta das inúmeras discordâncias entre os povos da região — que já viviam ali há séculos — e os israelenses.

E a Guerra dos Seis Dias não foi apenas um fato isolado. Ela está dentro deste contexto e faz parte dos fatos que marcaram a História recente do Oriente Médio.

As tensões pré-conflito: Israel, quem diria, se sentiu acuado…

A ONU reconheceu e estabeleceu as fronteiras do Estado de Israel em 1948. Antes, sem uma “pátria”, sem um local geográfico definido, os judeus tinham apenas o laço religioso como principal fator de união de todo o povo, desde a Antiguidade. Eles viviam espalhados por diversos países, mas mesmo um judeu nascido no Brasil ou em Angola, por exemplo, se considerava judeu antes de ser um brasileiro ou um angolano (aliás, é assim até hoje).


A criação do Estado de Israel veio justamente para suprir esta lacuna pátria dos judeus. E a “Terra Prometida” citada nas escrituras sagradas do povo era justamente ali, onde ficou definido o território israelense. Só que nunca perguntaram aos palestinos se estes aceitavam passar a viver em um local que de uma hora para outra seria administrado pelos judeus.

Nem perguntaram aos países vizinhos que, assim como o povo palestino, são de maioria muçulmana, se eles aceitariam os judeus vivendo ali ao lado. Óbvio que deu problema. E é mais óbvio ainda imaginar que no meio deste barril de pólvora, qualquer desconfiança poderia gerar um atrito e inflamar a região. E foi isso que aconteceu em 1967, a partir do dia do aniversário da fundação do Estado de Israel, 14 de maio.

Rumores de que o exército israelense estaria mobilizando tropas na fronteira com a Síria fez com que os egípcios — que tinham um acordo de ajuda mútua com os sírios no caso de uma agressão — mobilizassem suas tropas para a Península do Sinai, além de fechar o Estreito de Tiran, única via de acesso dos israelenses ao Oceano Índico.

Descrição: foto de um caça MIG-21 da Força Aérea Egípcia.

Esta informação teria sido passada aos egípcios pelo serviço secreto soviético (é, vai imaginando o rolo, enfim, Guerra Fria, não é mesmo?), mas até hoje não existe uma confirmação oficial de que a movimentação de tropas israelenses era verdadeira ou não. O fato é que ao perceber a movimentação dos egípcios, os israelenses aumentaram sua força militar na fronteira sul. No início de abril, antes destes rumores, Israel já havia derrubado seis caças MIGs egípcios que invadiram o espaço aéreo israelense.

Outro fato que deixou os israelenses mobilizados foi o pedido do Egito para que os boinas azuis da ONU deixassem o Sinai. Mesmo sendo território egípcio, o Sinai tinha soldados da ONU trabalhando para garantir uma certa neutralidade na região, devido justamente ao Estreito de Tiran, usado pelos navios israelenses.

Dias depois os sírios mobilizaram suas tropas nas Colinas de Golan, região da fronteira com Israel. Governantes árabes iniciaram discursos inflamados contra o Estado Israelense, e até mesmo inimigos fizeram as pazes: Gamal Abdel Nasser, do Egito, e o rei Hussein, da Jordânia, assinaram um pacto de defesa, e o Iraque logo se juntaria ao pacto.

Junho começou com Israel cercada por inimigos prontos para atacar. Estima-se que haviam cerca de 190 mil combatentes mobilizados nas fronteiras de Israel aguardando o comando para invadir o país, enquanto o exército israelense contava com 70 mil homens ao todo.

Como as forças armadas israelenses eram equipadas com armas de primeira linha norte-americanas, havia um certo equilíbrio nos exércitos, já que os árabes contavam com equipamentos, armas e veículos soviéticos que, convenhamos, apesar da excelente qualidade, eram armas mais velhas que as israelenses. A diferença era a quantidade de material humano a favor dos árabes.

E é aí que entrou em cena a estratégia do MOSSAD, o serviço secreto israelense.

A “blitzkrieg” israelense: pegando os árabes de surpresa

Não dá para não comparar a tática de guerra utilizada pelos israelenses no dia 5 de junho com a que foi usada pelos alemães no início da Segunda Guerra. As forças armadas de Israel, lideradas pelo general Moshe Dayan, iniciaram um ataque relâmpago contra as bases do Egito e da Síria.

Simulando voos de rotina, dezenas de caças israelenses rumaram para o sul logo pela manhã, e as 8h45 invadiram o espaço aéreo do Egito. Antes que qualquer avião da força aérea egípcia pudesse levantar voo para interceptar os israelenses, bombas já caíam nas pistas de decolagem e nos hangares, destruindo mais de 400 aeronaves em 19 bases militares.

Um esquema especial de reabastecimento foi montado nas bases israelenses, de modo que os caças ficavam apenas 7 minutos no solo e rapidamente decolavam para atacar novos alvos egípcios. Á tarde foi a vez de atacar bases e pistas na Síria. Ao fim do dia, quase 500 aeronaves foram destruídas sem sequer sair do chão, além da destruição de centenas de tanques que estavam nestas bases.

No dia 6, o rei Hussein recebeu uma mensagem do primeiro-ministro israelense, Levi Eshkol, informando que Israel não atacaria a Jordânia se a Jordânia não atacasse Israel.

Mas, incentivado por Nasser e a falsa informação de que o Egito estava indo bem no confronto (que falta fazia a internet!), Hussein autorizou que forças jordanianas bombardeassem a parte israelense de Jerusalém.

Falta de informações precisas ou não, o fato é que a movimentação jordaniana não lá foi muito feliz. Como já haviam destruído grande parte das aeronaves inimigas, não havia muito apoio aéreo dos vizinhos para ajudar a Jordânia. Pra piorar, Israel ainda utilizou soldados e tanques por terra.

Até o fim do segundo dia, Israel já havia empurrado os jordanianos para além do rio Jordão, ocupando toda a parte oriental da cidade de Jerusalém e a Cisjordânia. O acordo de cessar-fogo entre Israel e Jordânia foi assinado ainda no dia 7.

Israel já havia vencido a guerra, mas os árabes demoraram um pouco para entender…

No campo diplomático os EUA — que se declararam neutros logo no início do conflito — solicitaram à ONU que forçasse a abertura das negociações de paz entre árabes e israelenses. Mesmo com a vantagem tática, Israel e os EUA temiam uma guerra maior, uma mobilização a longo prazo dos civis e o rearmamento dos árabes pela União Soviética.

No mapa acima, os territórios conquistados após o conflito: Península do Sinai, Cisjordânia, Colinas de Golan e a Faixa de Gaza.

A organização militar israelense contrastava com a incrível desorganização militar árabe, em grande parte devido ao forte ataque surpresa, além da já citada desinformação.

Nos países árabes as informações sobre os confrontos que chegavam para a população eram animadores, o que fez milhares de pessoas buscarem o alistamento voluntário.

Só que na realidade as forças israelenses que estavam de prontidão no Sinai, lideradas pelo então general Ariel Sharon, já avançavam no dia 8 de junho sobre a península sem posições definidas e praticando tiro-ao-alvo contra as poucas e frágeis posições egípcias que sobraram após os ataques do dia 5.

No fim do dia, toda a força militar egípcia que deveria ocupar e defender a Península do Sinai estava do outro lado do canal de Suez, e os egípcios tiveram que aceitar o cessar-fogo.

No dia 9 Israel virou seus canhões para as Colinas de Golan, já que dali os sírios conseguiriam bombardear Israel se usassem armamento de longa distância. Nos dias anteriores os sírios e os israelenses trocaram tiros nas colinas, mas a chegada do grosso da artilharia israelense e o apoio aéreo logo resolveram o confronto. O cessar-fogo foi aceito e assinado pelos sírios dia 10, pondo fim à guerra.

As consequências da Guerra dos Seis Dias

Israel demonstrou imensa superioridade tecnológica e estratégica para vencer de forma rápida seus inimigos e estabelecer novas fronteiras para seu Estado, que triplicou de tamanho em seis dias com os novos territórios anexados.

Os árabes pouco puderam fazer contra a estratégia israelense, mas no plano interno seus governos ganharam força com a população ao desafiar Israel. Nasser, por exemplo, assinou o cessar-fogo e renunciou à presidência do Egito, mas cedeu ao apelo popular e voltou ao cargo. O forte discurso nacionalista do líder egípcio fez diferença.

Os confrontos reacenderam o ódio contra os israelenses no Oriente Médio, e desde então Israel mantém suas forças militares em constante prontidão contra possíveis ataques. Nos anos seguintes, novos confrontos militares aconteceram na região, mas Israel sempre esteve pronto para rechaçar os inimigos.

Após a Guerra dos Seis Dias a URSS rompeu relações diplomáticas com Israel e os países árabes, após a Cúpula de Cartum, não reconheceram o Estado de Israel. A ONU aprovou a Resolução 242, determinando que os israelenses retirassem as forças militares dos territórios ocupados e resolvessem o problema dos mais de 300 mil refugiados que nasceram depois desta guerra.

Israel nunca cumpriu a Resolução 242, e conta a lenda que o general Moshe Dayan, horas depois do fim dos conflitos, teria levado Ben Gurion — o fundador do Estado de Israel — para um voo de helicóptero sobre alguns dos territórios recém-anexados. Passaram sobre Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Quando o helicóptero aterrissou, Gurion segurou Dayan pelo braço e disse ao general que se Israel quisesse um dia ter paz, deveria devolver a maior parte do que conquistou naqueles seis dias.

O conselho não foi seguido, e os conflitos e atentados movidos por grupos árabes contrários à presença israelense na região continuam até hoje, assim como as constantes denúncias contra os ataques que Israel faz aos palestinos.

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