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A formação do Feudalismo


Europa, séc. IV d.C. O Império Romano do Ocidente, separado de sua porção oriental pelo imperador Teodósio no ano de 395 d.C., entrou em franca decadência. Entre os muitos fatores responsáveis por esta queda, podemos destacar:

1) A crise do escravismo;

2) As chamadas invasões bárbaras, muitas sem qualquer derramamento de sangue;

3) A crescente distribuição de terras, que antes estavam concentradas e eram administradas pelos senhores romanos. Cada vez mais os colonos passaram a administrar e trabalhar nas terras, pagando impostos aos donos das mesmas. Junte-se a isso a estagnação romana nas conquistas territoriais, e temos também um quadro onde os soldados recebiam terras para cultivar, e ao invés de lutar nas Legiões, plantavam para sobreviver.

Com o tempo, o feudo virou a “unidade básica” da produção medieval. Tudo que era necessário para a sobrevivência dos habitantes, dos servos, passando pelos senhores feudais — barões, condes, duques etc… — até os reis era produzido nos feudos.



Muitos consideram o ano de 476 como o marco do fim da Idade Antiga e início da Idade Média. A invasão da cidade de Roma pelos hérulos, bárbaros germânicos comandados por Odoacro, marcou o fim de um ciclo e o início de uma chamada “Era das Trevas”, alcunha da Idade Média normalmente encontrada nos antigos livros de História. Hoje sabemos que o período medieval na Europa pode não ter sido dos melhores em matéria de avanços tecnológicos e/ou culturais, mas a época teve sim seus avanços. Mas, antes de continuar, gostaria de tentar explicar algo sobre o feudalismo em si.

O medievalismo era algo exclusivo de uma parte da Europa

Os termos normalmente utilizados na Idade Média costumam generalizar o mundo todo ao cenário que era exclusividade da Europa Central, englobando os atuais territórios da França, Itália, Alemanha, Áustria e uma pequena parte de Espanha.

Se houve algum atraso tecnológico e/ou cultural na Idade Média, foi nesta parte do continente.

Muitas vezes esquecemos que a Europa Central estava cercada pelos árabes, na Península Ibérica — invasão iniciada após a expansão árabe do séculos VII e VIII — e pelo Império Romano do Oriente, ao leste, duas regiões em constante ebulição cultural.

Portanto, não devemos considerar a Idade Média somente como uma época de atrasos e retração. Uma pequena parte do continente europeu se desenvolveu, por alguns séculos, de forma mais lenta, esta constatação é inegável, mas a ideia não deve ser aplicada ao todo. E o sistema feudal, com suas relações de suserania e vassalagem, como nós acostumamos a discutir em sala de aula é quase que uma exclusividade desta região européia, daí a constante confusão.

Terra, poder e idéias

Já citamos acima como um dos fatores de decadência do Império Romano do Ocidente, os senhores que tinham terras e passaram a arrendá-las e faturar com isto. Portanto, terra era sinônimo de ganho material e consequentemente, Poder, e a Igreja Católica imediatamente tomou a frente não somente como maior dona das terras — pois muitos senhores doavam terras para a Igreja —, como também do pensamento, da ideologia vigente entre a população.

Pensadores como Agostinho de Hipona — o Santo Agostinho — ajudaram a construir as principais ideias católicas, condenando determinadas práticas da época — entre elas, a escravidão — e abençoando outras práticas, como a meditação religiosa, o celibato e a temor a Deus como únicas formas de salvação. Como nesta época os católicos não eram mais perseguidos e o catolicismo já era a religião “oficial” do Império Romano, a Igreja não tornou-se apenas um poder financeiro, mas também ideológico da Idade Média na Europa Central.

Não existiu uma data exata, e sim uma mudança gradativa

Neste processo de mudança da antiguidade para o medievo, muitas vezes entendemos que em uma determinada data tudo mudou. Não devemos pensar assim com relação a qualquer época. O ano de 476, já citado acima, é apenas uma data simbólica para facilitar a classificação das épocas históricas. Na época não foi baixado nenhum decreto exigindo a mudança imediata das ideias, dos costumes e das relações pessoais a partir do ano 476. E é até engraçado pensar assim, vocês concordam?

As mudanças foram gradativas e duraram séculos para a total consolidação. E tempos depois de consolidadas, novas mudanças aconteceram, voltando a estimular o comércio, as artes e o pensamento medieval, abrindo espaço para as Cruzadas, a Reconquista da Península Ibérica, as grandes navegações europeias etc…

Mas estes são assuntos para os próximos textos…

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