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Carlos Magno, o principal responsável pelo feudalismo?


Desde o século III as invasões bárbaras ajudaram a fragilizar o Império Romano, este é inclusive um dos motivos que levaram o império à ruína e à fragmentação. Parte da chave para entender melhor o feudalismo europeu está aí, nestas invasões e na crescente descentralização do Poder na cidade de Roma.

O que antes era uma capital que agregava todas as decisões políticas passou aos poucos a dividir influência com outras áreas, pois os nobres, em um certo momento, começaram a deixar a capital e migraram para suas terras ao longo da Europa.



Mas como o feudalismo foi consolidado na Europa após a queda definitiva do Império Romano do Ocidente em 476? — lembrem-se que o Império Romano do Oriente durou até 1473. Quando as relações de suserania e vassalagem passaram a predominar naquela região? Talvez o principal responsável seja o imperador Carlos Magno e seu Império Carolíngeo.

Reparem que o título do texto é uma pergunta. Feita de propósito, claro. Vamos falar um pouco mais de Carlos Magno para tentar responde-la.

O filho de Pepino, o Breve

No ano de 768, Carlos Magno e seu irmão Carlomano herdaram o império do pai. Pepino, o Breve, ficou conhecido por unificar o sistema monetário, colocando funcionários do reino para monopolizar a cunhagem de moedas, prática que ficou esquecida com a queda do Império Romano.

Carlomano faleceu em 771, e Carlos Magno reunificou o Reino dos Francos, também administrando as terras herdadas pelo irmão e vez ou outra expandindo o território com algumas campanhas militares na Península Itálica, Espanha e uma parte do leste europeu [confira no mapa abaixo].



Em extensão, o Império Carolíngeo — ou carolíngio, já li as duas grafias em diversos livros — lembrava o Império Romano do Ocidente. Observando este fato, além da manutenção da organização social e econômica iniciada por Pepino, os papas que estiveram à frente da Santa Sé em Roma sempre apoiaram Carlos Magno enquanto durou seu império.

As relações políticas de Carlos Magno: distribuindo terras e títulos

Carlos Magno governou com a seguinte estratégia: o poder era centralizado em sua mão e as principais decisões do reino passavam pelo seu julgamento, mas cada nobre tinha uma certa “autonomia” sobre suas terras — que muitas das vezes eram terras doadas pelo próprio imperador, que cobrava fidelidade aos nobres, que por sua vez ajudavam a defender as fronteiras do império.

Com o tempo, cada nobre passou a distribuir frações de suas terras a outros nobres, cobrando-lhes fidelidade. Essa cadeia de relações começa no imperador, o único a ser somente suserano, e termina no camponês, o único que é apenas vassalo. De um modo geral nós podemos explicar esta cadeia de relações da seguinte forma:



Este esquema, além de simplificado, está incompleto. Normalmente a hierarquia da nobreza de um reino é a seguinte: rei, duque, marquês, conde, visconde e barão. Mas esta hierarquia pode variar, assim como pode não existir algum título nobre em algum reino.

Mas eu acho que dá para entender este esquema, em que — excetuando as duas pontas — um suserano é também vassalo de alguém superior. O duque, por exemplo, doava terras para três marqueses, que por sua vez doavam terras para alguns condes, assim sucessivamente até os servos, que por sua vez não eram suseranos de ninguém e, conforme normalmente falamos no feudalismo, o servo fazia parte da terra.

Além disso, o clero tinha livre trânsito no reino. A Igreja durante a Idade Média foi a maior dona de terras, e isso é muito importante para entendermos como o poder católico era bem forte. Terra na Idade Média era sinônimo de poder e o maior poder estava justamente concentrado nas mãos da Santa Sé.

Quando Carlos Magno faleceu, em 814, seu filho Luis, o Pio manteve a unidade do império. Mas após a morte de Luís, em 840, seus três filhos (Lotário, Luís o Germânico e Carlos o Calvo), reivindicaram o reino, que foi dividido entre eles pelo Tratado de Verdun, firmado em 843.

E é aí que a fragmentação do poder nesta parte da Europa começa a ficar bem mais acentuada.

Nenhum dos três netos de Carlos Magno conseguiu manter uma unidade efetiva de seus reinos, e cada vez mais as terras eram distribuídas a nobres que tinham condições de manter uma organização mínima dentro de seus limites.

Com o tempo, diversas famílias de nobres passaram a ter uma influência maior sobre os servos do que os próprios reis. Com isso, o Império Carolíngeo, como construído na época de Carlos Magno, desfragmentou-se em pequenos reinos. Em muitas áreas a última palavra nas questões do reino acabava sendo da Igreja que, como já citado, era a maior dona de terras.

Junte-se a isto o fato de que aquela unidade monetária mantida por Carlos Magno também foi deixada de lado, e temos um cenário onde cada feudo podia ser considerado um pequeno reino dentro de outro reino, e no século X nós tivemos o ápice do sistema feudal, que só começou a esboçar uma pequena mudança com as Cruzadas a partir do século XI. Mas, de uma forma geral, as relações feudais só serão definitivamente banidas desta região da Europa nos séculos XVII e XVIII, com as revoluções industriais.

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