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A Pedra de Roseta e a “descoberta” do Egito Antigo


Por muitos séculos ninguém sabia exatamente o que significavam aqueles conjuntos de símbolos egípcios conhecidos como hieroglifos. A escrita egípcia antiga, encontrada nos grandes templos, nos tesouros retirados das tumbas e nos poucos papiros que sobreviveram à ação do tempo desde a Antiguidade aumentavam a aura de mistério em torno desta grandiosa cultura africana.

Mas em 1799, em uma expedição militar do (ainda) general Napoleão Bonaparte, o descoberta do pedaço de uma estela na cidade de Roseta, no delta do Nilo, ajudou o linguista francês Jean-François Champollion a decifrar os misteriosos hieroglifos, e a partir daí os arqueólogos e historiadores conseguiram, enfim, conhecer a História do Egito Antigo, uma das mais fascinantes de todos os tempos.

E também começaram, claro, a CONTAR esta História nos livros. Mas vamos primeiro entender como o enigma foi desvendado…

Como Champollion decifrou o que estava escrito da pedra?

A Pedra de Roseta é uma estela, um bloco de granito negro, conhecido como “granodiorito”, e que contém o mesmo texto em três idiomas diferentes: em forma hieroglífica do egípcio antigo na parte superior, o trecho do meio está em demótico, e na parte inferior está escrito em grego antigo.

E o texto nada mais é do que um decreto de 196 a.C., promulgado na cidade de Mênfis, em nome do faraó Ptolomeu V, elaborado por sacerdotes egípcios declarando o faraó como um ótimo governante, seguidor dos deuses e, logo após, algumas ordens sobre como a mensagem deveria ser compartilhada entre os súditos. Algo bem “básico” e comum naquela época.

É fato que mais cedo ou mais tarde a pedra cairia nas mãos de um linguista excepcional e ele faria o trabalho de tradução. Mas Champollion era, sem sombra de dúvidas, a pessoa certa para o trabalho certo, pois ele, além de linguista, também era professor de História.

A Pedra de Roseta virou o trabalho da vida de Champollion entre 1822 e 1824, período em que ele foi responsável pela tradução dos textos, expandindo o trabalho de outro historiador, o inglês Thomas Young.

A História normalmente coloca Champollion como o único tradutor da pedra, mas o fato é que o trabalho do inglês Young ajudou muito o francês a terminar o trabalho.

Mas a grande sacada para decifrar a pedra foi a percepção de que ali estava gravado o mesmo texto, bastando comparar os três decretos, realizar as associações — no caso dos hieroglifos — e transcrever o decreto.

Daí em diante, esta simples tradução de um simples decreto ajudou a descortinar 3 mil anos de História egípcia, que antes era construída pelos arqueólogos e historiadores na base do “achismo”, pois ninguém entendia com certeza absoluta o real significado dos hieroglifos grafados nas paredes dos templos.

Por exemplo: a partir da observação dos artefatos arqueológicos, dava para deduzir que os antigos egípcios davam muito valor aos mortos. Após a tradução da estela e do consequente estudo dos hieroglifos, os historiadores puderam decifrar que na verdade os egípcios acreditavam e valorizavam a vida após a morte, por isso os diversos tesouros e objetos do dia-a-dia encontrados juntos às múmias. Como outro exemplo, o famoso Livro dos Mortos só foi traduzido graças à descoberta de Champollion.

Não é exagero dizer que Champollion — e todos que trabalharam em algum momento na tradução da pedra — “descobriram” o Egito Antigo.

A pedra sendo cuidadosamente limpa por um funcionário do Museu Britânico.

Na época da descoberta, os franceses ficaram dois anos com a estela, mas como eles estavam em guerra com os ingleses, após perderem a posse do Egito, em 1801, a pedra trocou de mãos e foi levada para o Museu Britânico, onde está até hoje e é um dos objetos mais visitados daquele museu.

Neste link você pode fazer uma visita “virtual” à pedra e conferir como ela até hoje mantém detalhes impressionantes na escrita, principalmente os hieróglifos.

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