As aventuras de Hans Staden
Hans Staden nasceu na Alemanha (Homberg, 1525) e ficou conhecido por publicar um livro intitulado “Warhaftige Historia und Beschreibung eyner Landtschafft der wilden, nacketen, grimmigen Menschfresser Leuthen in der Newenwelt America gelegen”… que em português recebeu o singelo título de “Viagem ao Brasil”.
[e nem me perguntem a tradução e muito menos a pronúncia do alemão, por favor!]
Neste livro, que ajudou bastante no imaginário europeu sobre o “Novo Mundo” por muito tempo, Hans Staden conta como foram suas duas viagens ao Brasil, na primeira vez a serviço dos portugueses e na segunda a serviço dos espanhóis.
A primeira viagem, em janeiro de 1548, ele foi até a capitania de Pernambuco para carregar o navio de pau-brasil e retornar a Portugal.
A embarcação também trouxe degredados para povoar as terras portuguesas d’além-mar e a tripulação tinha ordem de combater qualquer embarcação francesa que fosse encontrada na costa brasileira.
Só que ao chegar em Pernambuco a tripulação foi convocada pelo governador da capitania, Duarte da Costa, para ajudar a conter uma rebelião indígena. Todos foram até Igaraçu, que sofria um cerco contra aproximadamente 8 mil indígenas. Defendendo a localidade existiam apenas uns 120 portugueses.
O reforço de cerca de 40 homens da tripulação ajudou, pois após uma luta ferrenha o grupo conseguiu derrotar os nativos. Assim, os navios carregados de pau-brasil retornaram a Portugal em dezembro de 1548.
Mas a viagem mais interessante de Hans Staden foi justamente a segunda!
Prisioneiro dos Tupinambás
Em 1550, Hans Staden juntou-se aos comandados do espanhol Diogo de Sanábria, que partiu de Castela para o “Novo Mundo”. A armada de Sanábria tinha ordens para fundar um povoado na costa de Santa Catarina e outro na foz do Rio da Prata. Só que a embarcação onde Hans estava naufragou no litoral de São Paulo, próximo de Itanhaém. Os sobreviventes conseguiram chegar a São Vicente e juntaram-se aos portugueses. Em 1553, Tomé de Sousa nomeou Hans Staden comandante — também chamado na época de condestável — do Forte de Bertioga. No ano seguinte, Hans caçava sozinho quando foi encontrado e capturado por integrantes de uma tribo Tupinambá.Hans foi levado cativo à região de Ubatuba, onde permaneceu preso na tribo do chefe Cunhambebe. Desde o início ele tinha percebido que a intenção dos tupinambás era de devorá-lo e, segundo conta no livro, ele era ameaçado constantemente de morte. O que o salvou foi justamente sua tentativa de convencer os tupinambás de que ele não era português e sim francês, portanto, aliado dos tupinambás.
Segundo afirmam alguns antropólogos, Hans não foi devorado pois aos olhos dos tupinambás ele pareceu um covarde, e não um bravo guerreiro, por isso sua carne era indigna de ser consumida por um valente guerreiro tupinambá.
Um tempo depois, uma tribo tupiniquim que era aliada dos portugueses atacou a aldeia onde Hans estava cativo. Mesmo prisioneiro, Hans teve que lutar ao lado dos tupinambás. Sua vontade era que os tupiniquins vencessem a luta, libertando-o, mas os tupiniquins perceberam que não tinham chance de vitória e se retiraram do combate.
Hans Stadem ainda tentou, sem sucesso, ser resgatado por dois navios, um português e outro francês, mas o resgate não aconteceu pois os comandantes destas embarcações não queriam entrar em atrito com os tupinambás. Mas após nove meses aprisionado, Hans conseguiu ser resgatado pelo corsário francês Guillaume Moner, que o levou de volta para a Europa.
De volta à sua terra natal, em 1555, Hans escreveu o Warhaftige Historia, onde contava com detalhes seus dias no “Novo Mundo”. O livro, publicado em 1557, acabou se tornando um importante documento sociológico, cultural e antropológico de parte da cultura nativa do Brasil em meados do século XVI.
Capa da versão original do livro em alemão.
Mas o que mais chama atenção nos escritos de Hans Staden é a sua tentativa de transmitir um relato o mais próximo possível da realidade. Na época, a Europa estava tomada de relatos fantásticos das terras do Novo Mundo, com descrições de seres humanos que tinham mãos no lugar dos pés, sereias, peixes com cabeça de homens; e homens com cabeças de feras — entre outras aberrações — o que fez, na época, o escritor François Rabelais dedicar dois capítulos de seu livro “Gargantua e Pantagruel” a satirizar essa visão fantástica dos exploradores.
Staden apenas relatou o que viu e, lógico, não inventou seres mitológicos.
No Brasil, só em 1925 que a obra de Hans Staden mereceu uma melhor atenção, já que a única tradução para o português datava de 1892 e era falha, pois tinha sido traduzida de uma versão francesa que já não era lá muito exata. O escritor Monteiro Lobato traduziu a primeira parte do livro, adaptando-o para os jovens. Já em 1930, o texto foi traduzido do original por Alberto Lofgren, e batizada, enfim, de “Viagem ao Brasil”.
E em 1999 as histórias de Hans Staden viraram filme, em uma produção conjunta de brasileiros e portugueses, dirigido pelo brasileiro Luis Alberto Pereira.
Hans Staden faleceu na cidade alemã de Wolfhagen, em 1579.
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