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A Guerra Civil Espanhola

Quadro "Guernica", do genial Pablo Picasso

Um dos conflitos mais sangrentos do século XX contou com parte dos ingredientes da Segunda Guerra Mundial e também serviu de treinamento para as forças armadas da Alemanha e da Itália. A Guerra Civil Espanhola deixou mais de 500 mil mortos e uma ditadura no poder que durou de 1939 a 1975.

Mas antes de falar do conflito em si, vamos tentar entender como a Espanha chegou a este ponto? Vamos lá.

Espanha: país rico no passado, mas o ouro escorreu pelos dedos

Pioneira das grandes navegações iniciadas nos séculos XV e XVI, a Espanha manteve por muito tempo diversas colônias, principalmente na América e na África. Mas com o passar dos anos estas colônias, principalmente as americanas, foram lutando cada uma pela sua independência e a Espanha foi perdendo espaço enquanto Metrópole, além de não conseguir manter tanta influência econômica nestes países que nasceram a partir de suas colônias.

Culpa, em grande parte, da Inglaterra, dos EUA e até mesmo da França, que em algum momento ajudaram os movimentos de independência e reconheceram estes novos países, tomando a frente das futuras relações comerciais.

Um outro agravante que influenciou negativamente a economia espanhola através dos séculos foi o fato do ouro e da prata recolhidos na América não ter financiado o crescimento tecnológico do país. Ao invés de investir em manufaturas e indústrias, os monarcas espanhóis compravam os produtos prontos de países como Inglaterra e França.

Assim, a balança comercial espanhola uma hora começou a ficar desfavorável, apesar das toneladas de ouro e prata que fluíam da América para a Espanha.

Quando observamos a Espanha no início do século XX, percebemos que sua economia ainda era majoritariamente agrária e a industrialização, tardia. A situação da maioria da população espanhola era parecida com a população russa antes da revolução de 1917, mas não era assim tão miserável quanto a dos russos, apesar da pobreza dos camponeses e dos operários.

Da monarquia parlamentar para a ditadura e depois para a república em menos de duas décadas

O parlamentarismo espanhol sofreu um Golpe de Estado em 1923, quando o militar Primo de Rivera, em nome da ordem e para conter a expansão dos sindicatos anarquistas — principalmente os da região da Catalunha — tomou o poder e implantou uma ditadura que durou até 1931, quando, acuado por diversas denúncias de corrupção, Rivera renunciou ao posto.

O rei Afonso III então tratou de convocar eleições para as municipalidades, que ocorreram em abril de 1931 com vitória dos monarquistas na maioria das grandes cidades. Mas no restante do país a vitória dos republicanos — maioria de partidários identificados com a esquerda — foi esmagadora.

Já imaginando o cenário meio tumultuado, Afonso III abdicou do trono e um governo provisório ficou encarregado de redigir uma nova constituição, onde a discussão principal era a separação entre Igreja e Estado, já que o clero era culpado pelos republicanos de apoiar os grandes latifundiários e os donos de indústrias contra os sindicatos. Novas eleições foram convocadas para dezembro, e Alcalá Zamora foi eleito presidente e nomeou Manuel Azaña para organizar o governo.

Azaña era um político moderado e procurou conciliar as reivindicações sindicais com os interesses dos donos da Espanha. Óbvio que esta estratégia não deu certo, pois a Espanha já passava por turbulências: os anarquistas e os esquerdistas, mesmo os mais moderados, atacavam a Igreja e os latifundiários, enquanto estes dois grupos tramavam contra os sindicatos. Não eram simples discussões ideológicas, os grupos opostos chegavam às vias de fato, com mortes e atentados sendo praticados pelos dois lados.

Os Anarquistas acabaram não apoiando a Esquerda nas eleições parlamentares de 1933. Sem este apoio, a Direita venceu o pleito. Algumas insurreições esquerdistas ocorreram por toda a Espanha, mas a única que teve um real impacto foi a Comuna das Astúrias, que dominou a cidade de Gijón por alguns dias.

Já em 1936, apoiados pelos anarquistas, a esquerda venceu as eleições. Inflamados pela derrota, a Direita tentou um golpe.

O início da Guerra Civil

A guerra não começou porque os dois lados envolvidos queriam apenas resolver as coisas à bala.

Além das agitações internas da Espanha, havia também o cenário político-ideológico europeu que não deixava dúvidas: nazi-fascismo ou comunismo, só um deveria sobreviver nesta queda-de-braço (porque diferente do que dizem alguns malucos, são duas ideologias completamente diferentes, ok?).

O nazi-fascismo já havia vencido na Itália, na Alemanha, em Portugal e já engatinhava na Áustria, enquanto o comunismo mostrava sua força na URSS.

A Espanha teria que pender para um lado. E assim os militares de direita, liderados pelo general Francisco Franco, orquestraram o golpe que teve início em 17 de julho de 1936, auxiliados pelos latifundiários e pela Igreja, além do apoio bélico maciço de Itália e Alemanha.

Do outro lado estavam a Frente Popular, base do governo eleito em 1936, apoiado pelos sindicatos, os partidos de esquerda e os simpatizantes do republicanismo, além do apoio bélico da URSS.

Quando a direita tentou tomar o poder em todo o país, a Espanha ficou dividida. Uma parte acabou controlada facilmente pelas tropas de Franco, os Nacionalistas, e outra parte ficou sob controle dos Republicanos.

Nestas áreas sob controle dos Republicanos, as terras foram socializadas, os latifundiários e a Igreja perderam suas posses e os simpatizantes da Esquerda lutavam bravamente para conter o avanço nacionalista.

Enquanto o general Franco buscava o apoio de “certas pessoas”, o povo pegava em armas para lutar contra o fascismo…

Mas a verdade é que a maioria das tropas republicanas eram formadas por milícias que lutavam com as armas que tinham nas mãos, e mesmo com o apoio da URSS, ficava muito difícil manter as linhas de defesa contra as táticas da blitzkrieg, já testadas pelos alemães em solo espanhol.

Alguns historiadores inclusive concordam com o fato de que o teste final do exército alemão antes da grande expansão territorial nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial foi a Guerra Civil Espanhola.


Com o tempo as regiões republicanas foram perdendo forças. O mapa acima mostra a situação logo no início da guerra, ainda em 1936. Em outubro de 1937 os Nacionalistas já haviam tomado todo o norte e toda a região mais ao sul, onde fica Málaga e Sevilla, além de Granada.

Já em novembro de 1938 só sobravam aos Republicanos as regiões de Valencia, Alicante, Madri, Barcelona e Gerona.

Ao estudar este conflito é comum ler sobre as atrocidades cometidas pelas tropas do general Franco. Cidades foram arrasadas e muitas pessoas morreram em bombardeios e execuções sumárias, além da fome, comum nestes conflitos. Afinal, era uma guerra. Um dos maiores protestos contra as atrocidades franquistas foi pintado pelo genial Pablo Picasso. O quadro “Guernica”, que abre este texto, representa o cruel bombardeio que a cidade sofreu em 26 de abril de 1937.

A Guerra Civil espanhola também teve testemunhas ilustres. Além de Picasso e Dalí, George Orwell — aquele mesmo, do famoso livro “1984” — após vagar por Paris e Londres, foi em 1936 para a Espanha integrar a Frente Popular e lutou ao lado dos republicanos. Ernest Hemingway foi cobrir a Guerra Civil para um jornal dos EUA e também acabou pegando em armas a favor dos republicanos. Federico Garcia Lorca, um dos principais escritores espanhóis, foi fuzilado por franquistas no início do conflito, em Granada.

O último grande reduto republicano a cair foi Madri, em 26 de março de 1939. Restaram, sem muita força, Valencia e Alicante, que se renderam em 30 de março, e a cidade de Murcia rendeu-se dia 31.

Em 1º de abril de 1939 deu-se início ao regime franquista, que comandou a Espanha até 1975, quando o general Franco enfim morreu e deixou um país cheio de diferenças ideológicas, sentimentos de independência de algumas regiões e feridas abertas até hoje.

Fontes

- “Guerra Civil Espanhola”, texto de Pedro Augusto Rezende Rodrigues;
- Texto de Rodrigo Patto Sá Motta sobre o livro “A Guerra Civil Espanhola”, de Francisco J. Romero Salvadó.
Os dois links foram verificados em 28/04/2020.

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