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O pai da Revolução Industrial


Se o homem hoje não produz mais os principais bens de consumo somente de forma artesanal, como faziam nossos antepassados até o século XVII e nós consumimos produtos complexos, fabricados em larga escala e — até certo ponto — acessíveis financeiramente, nós devemos este avanço a um escocês nascido em Greenock, em janeiro de 1736.

Se ele não tivesse realizado este avanço, certamente alguém o faria, naquele século XVIII já movido pela pressa capitalista em produzir cada vez mais e mais no menor tempo possível. Mas quem entrou para a História aperfeiçoando o motor à vapor e criando um dos alicerces da Revolução Industrial foi James Watt.

Matemático e Engenheiro, Watt aperfeiçoou uma máquina já existente e entrou para a História

James Watt estudou e trabalhou um tempo em Londres, ainda bem jovem, em 1755, mas foi em Glasgow — quando teve que voltar um ano depois, pois sua saúde não ficou muito boa com o clima de Londres — que ele desenvolveu seus principais trabalhos na engenharia.

O gosto pela instrumentação e a curiosidade latente dos grandes inventores foi despertada por seu pai, que era construtor de casas e barcos.

Quando Watt conseguiu ser admitido na Universidade de Glasgow, em 1757, como “fabricante de instrumentos de medidas”, teve contato com o equipamento que ele mesmo aperfeiçoaria e mudaria a produção industrial para sempre: a máquina a vapor de Thomas Newcomen, que desde 1712 já provava sua eficiência principalmente como bomba d’água, esvaziando em algumas semanas certos lugares — como minas de carvão, por exemplo — que demoravam meses para que se completassem os serviços de drenagem da água, quando necessário.

O trabalho de Watt foi desenvolvido ao longo de alguns anos, mas ele conseguiu transformar a máquina a vapor de Newcomen em um equipamento que não desperdiçava tanto calor, o que diminuía o consumo de carvão e podia ser aplicada em diversas situações.

Voltando ao exemplo da drenagem, o motor de Watt conseguiu drenar uma mina completamente alagada em apenas 16 dias. Com o sucesso da empreitada, Watt aproveitou para oferecer os serviços de seu motor para movimentar o elevador da mina, o que deu certo e alavancou o sucesso da invenção.

Esquema do motor a vapor de James Watt

Mas foi na indústria que seu invento definiu uma era e modificou para sempre as relações produtivas.

Antes o homem produzia tudo manualmente, de forma artesanal. Mesmo o tear, por exemplo, agilizou a produção de tecidos quando foi criado, mas o volume de produção dependia de uma pessoa e da velocidade que esta pessoa tinha para tocar o tear. O motor a vapor de Watt facilitou e agilizou ainda mais a produção de vários bens de consumo, tornando os produtos mais baratos, pois agora eram produzidos em maior quantidade e mantendo, quando possível, a mesma qualidade.

Esta invenção também impulsionou a metalurgia e a construção das primeiras locomotivas a vapor, diminuindo distâncias que antes demoravam dias, até meses para serem transpostas.

James Watt faleceu em 1819 mas chegou a ver o sistema de produção baseado em máquinas a vapor se consolidando definitivamente em vários países, principalmente na Inglaterra e França. Mais tardiamente os EUA, a Alemanha, a Itália e outros países europeus passaram a utilizar cada vez mais o motor a vapor como principal movimentador de suas fábricas. Era o fim da manufatura e o começo da produção em massa, que viria a ser mais massiva ainda com a invenção do motor elétrico algumas décadas depois.

Mas antes de terminar, vamos falar dos primeiros inventos que utilizaram o vapor como forma de produzir movimento.

Antes do motor de Watt: algumas curiosidades

Heron de Alexandria foi o primeiro a utilizar — e domar — o vapor para movimentar algo. O sábio grego viveu entre os anos 10 e 70 da era cristã e inventou o Eolípila (imagem ao lado). O fogo aquecia a água que ficava no recipiente embaixo e o vapor que saía pelos tubos fazia a esfera se mover.

Mas a primeira máquina que utilizava o vapor de forma útil foi inventada pelo francês Denis Papin em 1679, utilizando o esquema de êmbolo e cilindro. Papin inclusive inventou um dispositivo bem parecido com o que encontramos hoje nas panelas de pressão, para evitar que o vapor explodisse o cilindro.

Em 1698 o engenheiro militar inglês Thomas Savery inventou a primeira máquina a vapor com utilidade industrial, mas sua invenção não foi bem aceita pelos donos das fábricas, pois corria sério risco de explodir devido à grande pressão com que o vapor era acondicionado. O já citado Thomas Newcomen em 1712 aperfeiçoou as idéias de Papin e Savery e criou sua máquina, que por sua vez foi aperfeiçoada por James Watt.

Como homenagem pelos seus trabalhos, “Watt” hoje é uma medida de energia que corresponde à emissão de 1 joule por segundo (1W = 1J/s). Também é atribuído a Watt o primeiro uso da expressão “horse power” (HP), para atribuir a relação do trabalho de seu motor em comparação aos cavalos que executavam determinados serviços. Quando ele dizia que uma máquina tinha “10HP”, queria dizer que aquele motor teria a força de trabalho de “10 cavalos”. Esta relação ainda é muito utilizada até hoje em diversos motores.

Fontes:

– Biografia de James Watt no UOL Educação.

– “James Watt e a máquina a vapor”, texto de Marco Gui Alves Pinto.

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