Os 300 que eram 4.000


Grécia, 480 a.C.

Os persas, comandados por Xerxes, atravessaram o Helesponto — o Estreito de Dardanelos — e marcharam sobre a Grécia com o objetivo de invadir Esparta.

Os espartanos, não interessados em servir aos persas, resistiram bravamente naquela que pode ser considerada uma das cinco batalhas mais heroicas da Antiguidade: a Batalha das Termópilas.


Porém, diferente do que é mostrado no filme “300”, dirigido por Zack Snyder e adaptado da HQ homônima concebida pelos talentosos Frank Miller e Lynn Varley, Esparta não resistiu apenas com 300 homens. Mas antes de explicar a batalha, vamos falar um pouco sobre a cidade-estado Esparta.

Inicialmente habitada pelos pelasgos, a região foi invadida pelos aqueus e posteriormente conquistada pelos dórios. Esparta foi fundada aproximadamente no século IX a.C., e com o passar dos séculos os espartanos foram se aprimorando cada vez mais na arte do combate.

Inicialmente, eles estavam preocupados apenas com suas defesas contra os aqueus que não aceitavam o domínio dório. Posteriormente, passaram a usar a guerra como uma forma de conquistar mais territórios. E, é claro, este poderio militar tinha que ser cada vez maior, e era na educação das crianças que começava a formação do soldado espartano.



A Educação espartana

O jovem não recebia uma educação parecida com a de outras cidades-estado gregas — como Atenas, por exemplo, que era uma educação mais formal. Em Esparta, o jovem era educado para ser um guerreiro, não um filósofo.

O recém-nascido que tivesse algum defeito físico que impossibilitasse a participação em combates era morto logo após o parto. Cruel? Claro que sim, mas imagine um bloco de soldados coeso, quase intransponível, com seus escudos e suas lanças. Assim era a formação dos batalhões espartanos. E se todo cidadão espartano era um soldado, quem estivesse fora dos “padrões” era rapidamente descartado. Qualquer um que não pudesse segurar um escudo ou erguer uma lança na altura da cabeça não servia para manter a coesão do bloco.


Os garotos então passavam parte da infância e a adolescência realizando exercícios físicos e militares, comandados por um monitor. Os garotos eram largados para viver às próprias custas e viviam uma vida austera. Não podiam pedir alimento, então aprendiam a roubar. Sim, roubar. Aliás, eles podiam roubar, mas não podiam ser encontrados no ato do roubo. Caso fossem capturados, os jovens eram castigados em público.

No mais, aprendiam poesia sagrada e cantos de guerra, além de tomarem para si o costume de expressarem-se em poucas palavras, enfim, de serem eloquentes. Aliás, a expressão lacônico, usada para designar pessoas que se expressam com poucas palavras, vem desta época, já que os espartanos viviam na região conhecida como Laconia (veja o mapa no início do texto).

Esparta mantinha um exército regular de aproximadamente 30 mil homens e, como já citamos, quase toda sua população masculina fazia parte do exército. Aos 20 anos o jovem ingressava no corpo militar, e só deixava o exército aos 60 anos. E foi esta Esparta que os persas tentaram invadir em 480 a.C.

A Batalha das Termópilas

“Let them come!!!”

A verdade é que para a batalha foi deslocado um batalhão de elite do exército espartano. Como citado na HQ e no filme “300”, provavelmente esta era a guarda pessoal do rei Leônidas. Mas juntamente com os espartanos, outras cidades e regiões mandaram guerreiros para auxiliar a conter os persas.

Segundo Luiz Marques, professor do departamento de História da Unicamp,

Do lado grego, havia 300 hoplitas de Esparta, 500 de Tegéia, 500 de Mantinéia, 120 de Ôrcomenos, na Arcádia, e mil do resto dessa região. Corinto enviara 400 homens; Flionte, 200 e Micenas, 80. Da Beócia, vinham 700 tespianos e 400 tebanos (…). Da Fócia, vinham mais mil combatentes.[1]


A estratégia de enfrentar os persas na passagem das Termópilas foi muito inteligente. A passagem permitia que apenas uma carroça por vez atravessasse o local e a desvantagem numérica dos gregos foi praticamente anulada. Aliás, estima-se que os gregos enfrentaram 3 milhões de persas, o que também não é verdade. Xerxes contava com uma força bem menor, mas mesmo assim era um exército muito superior às forças gregas nas Termópilas.

Os gregos resistiram por 2 dias de forma heroica, rechaçando ondas e ondas de ataques persas, com pouquíssimas baixas. Foram traídos por um certo Efialtes, que teria informado a Xerxes sobre a passagem pela montanha, contornando o desfiladeiro sem alarmar as sentinelas e cercando os gregos.

Vários debandaram ao saber do avanço persa, mas a História diz que os 300 espartanos continuaram firmes em suas posições. Leonidas avançou frente ao exército persa com furor, atacando de forma impiedosa. Mesmo assim, cercados, os espartanos não resistiram mais que um dia.

O esforço não foi em vão. Os gregos conseguiram fortalecer suas defesas e venceram Xerxes na batalha naval de Salamina e na batalha campal de Platéia. A Grécia conseguiu manter sua liberdade, pois o resultado final foi a derrota de Xerxes.

Notas:

[1] Revista História Viva, ano IV, n° 43, pág. 69.

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