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Rosa Parks e a eterna luta contra o racismo

Além de lutadora, ela ainda envelheceu como uma senhora fofinha!

Mesmo após a Constituição Norte-Americana de 1776 afirmar que “todos os homens são iguais”, ser negro e morar nos estados do sul dos EUA até meados da década de 1960 podia ser considerada uma verdadeira luta.

Os negros tinham seus direitos civis estipulados desde a abolição da escravatura e o fim da Guerra Civil Americana, mas o preconceito nos estados do sul ainda era capaz de legislar a favor da segregação racial.

O cenário era bem parecido com o sistema de apartheid na África do Sul, onde existiam leis que separavam negros e brancos. Alguns estados do sul dos EUA, por exemplo, tinham leis específicas que estabeleciam que negros deveriam andar na parte de trás dos ônibus e, sempre que o veículo estivesse cheio, tinham que ceder lugar aos brancos. E foi a partir de uma situação como esta que nós começamos a falar de Rosa Parks.

Rosa e a luta pelos direitos civis

Rosa Louise McCauley, também conhecida como Rosa Parks, nasceu no estado do Alabama em 4 de fevereiro de 1913. De família humilde, logo cedo teve que largar os estudos e trabalhar como costureira para ajudar sua família. Em 1932 casou-se com Raymond Parks, ativista da NAACP, organização norte-americana que sempre lutou pelos direitos civis dos negros nos EUA.

Rosa logo abraçou a causa do marido, tornando-se militante da NAACP e ajudando nas ações da organização e incentivando outras pessoas a militar pela causa. Mas, assim como todos os negros que viviam nos estados do sul dos EUA, Rosa era obrigada a conviver com as consequências das leis que segregavam a sociedade.

E num belo dia na cidade de Montgomery, onde Rosa vivia com o marido, exatamente o dia 1º de dezembro de 1955, ela embarcou no ônibus que mudou sua vida.

Assim como todos os ônibus do Alabama, aquele também seguia as regras ditadas pelas leis do estado: brancos sentados nos bancos da frente, negros nos bancos de trás. Em algumas cidades os negros ainda tinham que entrar na porta da frente, pagar a passagem, descer do carro e entrar pela porta de trás. Desnecessário dizer que se o motorista fosse um sacana, muitos negros pagavam a passagem e acabavam ficando para trás.

Rosa Parks entrou no ônibus após um dia de trabalho e sentou-se no lugar que deveria, por lei, ficar sentada ou seja: na parte de trás, mas bem próxima do meio do ônibus. Durante o trajeto o ônibus encheu de tal forma que não havia mais lugares para sentar. E quando um passageiro branco entrou no ônibus e exigiu que Rosa cedesse o lugar para ele sentar — lembrem-se, era a lei — Rosa se recusou a dar o lugar para o homem.

Ela não estava exatamente cansada após um dia estafante de trabalho, mas...

“Na verdade senti que tinha o direito de ser tratada como qualquer outro passageiro. Havíamos suportado aquele tipo de tratamento por muito tempo.”


Por causa desta atitude ela foi presa. Pagou fiança, foi liberada e recebeu um importante apoio para seguir na luta pela igualdade dos direitos civis: Martin Luther King Jr, na época líder da Igreja Batista de Montgomery e que também militava pela igualdade civil.

Juntos eles iniciaram uma campanha de boicote aos ônibus de Montgomery, que durou exatos 382 dias e que logo se alastrou para outras cidades do sul dos EUA. Agora imaginem muitos negros deixando de andar de ônibus, pegando carona, indo à pé ou andando de bicicleta para chegar ao seu destino? Em algumas cidades os negros eram mais de 50 % da população.

Óbvio que doeu — e muito! — no bolso dos donos das empresas de ônibus da época. Em 1956 a Suprema Corte dos EUA decretou que esta segregação no transporte público era inconstitucional e determinou o fim destas leis que separavam negros e brancos — pelo menos dentro dos ônibus.

Por este ato — e o posterior boicote — Rosa ficou conhecida em todo EUA como “a mãe dos direitos civis dos negros”. Ela e seu marido tiveram que se mudar para Detroit em 1957, devido às constantes ameaças de morte que os dois sofriam. Mesmo assim, não deixaram de lutar pelos direitos civis.

Martin Luther King passou a usar o exemplo de Rosa Parks e o sucesso do boicote para influenciar mais pessoas a militar pela causa. A década de 1960 foi marcada por movimentos maiores e mais organizados pelos direitos civis dos negros, culminando com a assinatura das Declarações de Direitos Civis de 1964 e 1968, que acabavam — pelo menos para o sistema judiciário dos EUA — com a discriminação no sistema eleitoral, nas escolas, fábricas e demais locais públicos.

Rosa Parks faleceu em 2005 aos 92 anos, ainda ajudando ativamente o Rosa and Raymond Parks Institute, órgão criado por ela em 1987 com sua amiga Elaine Steele e que tem um programa de palestras, o “Pathways to Freedom”, que ajuda a esclarecer aos mais jovens a importância dos direitos civis no dia-a-dia da sociedade.

Ela ainda foi condecorada em 1996 pelo então presidente Bill Clinton com a Medalha Presidencial da Liberdade, uma das maiores honrarias dos EUA. Em 1999, foi a vez do Congresso norte-americano reconhecer sua luta condecorando Rosa com a Medalha de Ouro do Congresso.


Ela também tem uma estátua em sua homenagem no National Statuary Hall do Capitólio, honraria esta que foi sancionada pelo então presidente George W. Bush no dia 1º de dezembro de 2005 — quando a prisão de Rosa, por causa da desobediência civil, completou 50 anos — e inaugurada pelo presidente Obama em 27 de fevereiro de 2013.

Uma grande luta pode começar com um grande ato!

Fontes

Biografia de Rosa Parks na Academy of Archievement. Texto em inglês.

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