O mais longo dos dias


O dia 6 de junho de 1944 não entrou para a História como “o mais longo dos dias” à toa. A Europa sofria sob as garras da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial e, mesmo com a derrota em Stalingrado — ainda em 1943 — e o avanço soviético, os alemães ainda davam as cartas na parte ocidental do continente.

A solução, costurada por meses entre os países Aliados, seria invadir com força total uma área do norte da França, quebrando uma parte da Muralha do Atlântico, um conjunto de fortificações construído pelos alemães e completamente reforçada quando o marechal-de-campo Erwin Rommel foi designado por Hitler para defender o litoral norte.

Ao abrir esta brecha no litoral francês — e consequentemente mais uma frente de batalha para os alemães —, o plano dos Aliados era dividir ainda mais os recursos do exército alemão.

Mas não foi tão fácil assim…

Enganando os nazistas com um pouco de desinformação

O ideal, do ponto de vista logístico, seria invadir a região pelo porto de Calais, o ponto do Canal da Mancha mais próximo entre a França e a Inglaterra. Só que os alemães pensavam a mesma coisa, por isso esta região estava extremamente fortificada.

Um dos bunkers de defesa das praias francesas.

Rommel ordenou o aumento das defesas em todo o litoral, mas em Calais podemos dizer que os alemães capricharam nas fortificações.

Seria quase impossível invadir por ali e mesmo facilitando muito a logística dos Aliados caso eles conseguissem conquistar Calais, de um modo geral todo comando aliado desistiu de usar os recursos na região.

Assim, a Normandia foi a região escolhida, mesmo a 200 Km do território inglês, pois a topografia das praias da região, amplas e planas o bastante para permitir a movimentação de muitas tropas e veículos favorecia o desembarque rápido.

Aqui é importante dizer que Rommel desconfiava que uma invasão aliada aconteceria na Normandia. Ele não era chamado de “raposa” à toa…


Até o último instante os Aliados trocaram mensagens — interceptadas pelos alemães — que davam a entender que Calais seria o alvo da invasão. As praias receberam codinomes de Utah, Omaha, Gold, Juno e Sword, de forma que as mensagens interceptadas pelos alemães não traziam os nomes reais da localização do ataque. Desnecessário comentar que o dia da invasão também era guardado a sete chaves.

Mesmo fortificada, a Muralha do Atlântico e as regiões próximas tinham um problema: faltavam soldados para defender os espaços. Quando Hitler cismou em invadir a URSS e dividiu seus exércitos em três frentes distintas para conquistar Leningrado, Moscou e Stalingrado, os russos sofreram por cerca de dois anos com os avanços e os cercos alemães, mas o frio, as dificuldades logísticas e a vontade de lutar do Exército Vermelho fizeram a diferença.

Só em Stalingrado estima-se que a Alemanha perdeu mais de 200 mil soldados, entre mortos e prisioneiros de guerra. Acabou faltando recursos humanos e materiais para defender as praias francesas do contingente aliado que invadiu a Normandia.

Operação Overlord: o Dia D

Mesmo assim, não seria fácil invadir um território ocupado há alguns anos pelos alemães. Além das fortificações ao longo do caminho até Berlim, o local ainda tinha muitos soldados bem armados e prontos para defender as conquistas de Hitler.

A força máxima de ataque não serviria apenas para quebrar a Muralha do Atlântico neste primeiro momento, mas também para libertar regiões ocupadas pelos alemães e conseguir uma vitória esmagadora em qualquer direção que os Aliados tomassem.

Para que o plano desse certo da forma mais rápida possível, ainda na madrugada do dia 6 várias brigadas de paraquedistas (cerca de 20 mil homens) pularam atrás das linhas alemães nas regiões de St. Mère Église e Caen, com ordens para tomar e defender as saídas das praias da Normandia.

Todos os paraquedistas sabiam sua missão e mesmo com muitas dificuldades para reagrupar em suas divisões, o caos criado com soldados aliados espalhados em vários pontos do território francês fez com que os alemães ficassem meio perdidos na defesa, e poucos soldados saíram de suas posições para aumentar o material humano da Muralha do Atlântico.

Some-se a isso os atos de sabotagem que membros da resistência francesa já faziam há tempos e que aumentaram entre os dias 5 e 6, e o cenário da madrugada do dia 6 estava bem caótica para os alemães.

Assim, às 6h30, sob o comando do general Dwight Eisenhower, mais de 185 mil homens e 20 mil veículos aéreos, marítimos e terrestres iniciaram a invasão da Normandia. Os britânicos e os canadenses ficaram responsáveis pelos setores Gold, Juno e Sword, enquanto os norte-americanos desembarcaram em Utah e Omaha.

Mesmo sob forte bombardeio que vinha do mar, houve uma resistência alemã feroz em todas as praias, mas principalmente em Omaha, que ficou famosa pelo combate que aconteceu ali. Muitos historiadores consideram que a resistência alemã nas outras praias nem foi tão violenta assim, justamente porque Omaha extrapolou os limites. Mas o fato é que os alemães não entregaram as praias de mão-beijada para os Aliados.

Houve muita luta e muitos soldados morreram, de ambos os lados.

O primeiro grande objetivo era libertar Paris dos alemães para depois marchar até Berlim, já que os soviéticos, na frente oriental, viraram o jogo e já estavam a caminho da capital alemã.

A guerra só acabaria um ano depois, em 1945. Mas o Dia D certamente ajudou a abreviar o domínio alemão e a queda de Hitler.

Observações:

- É bom citar que as fotos do desembarque foram tiradas APÓS o conflito diminuir de intensidade, pois era impossível imaginar que no meio do tiroteio dava para tirar alguma foto…
- Essa indicação é mais óbvia do que andar para a frente, mas não tem como fugir: assistam “O Resgate do Soldado Ryan”, que tem a primeira meia-hora mais apavorante de todos os filmes de guerra da História do cinema. Aliás, ainda existe alguém que não assistiu a este filmaço???
- Assistam também a minissérie “Band of Brothers”, que conta o que aconteceu com os paraquedistas da Companhia Easy antes, durante e depois do Dia D.

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